UM HOMEM DAS ARÁBIAS - PÊRO DA COVILHÃ
por Deana Barroqueiro
Um Homem das Arábias, o terceiro romance da colecção Cruzeiro do Sul, publicada pela editora Livros Horizonte (2002-2004), inicia a saga de Pêro da Covilhã, o espião de D. João II, especialmente escolhido pelo rei para as missões impossíveis. Nele são relatadas as perigosas aventuras deste James Bond português dos finais do Século XV, em Marrocos e a primeira etapa da sua extraordinária viagem solitária de mais de quatro anos pelas regiões do Mar Vermelho e costas do Índico, em busca da rota das especiarias e, posteriormente pela África Oriental, Arábia e Etiópia, em busca do mítico reino do Prestes João.
Ao procurar um discurso próximo do ponto de vista do aventureiro quinhentista, confrontado com mundos que lhe eram completamente estranhos e os deslumbravam ou escandalizavam, certas atitudes, falas e pensamentos das personagens podem veicular mentalidades e comportamentos que hoje não podemos deixar de considerar racistas, mas que no tempo dos Descobrimentos traduziam o ponto de vista próprio do Homem Europeu que se considerava o centro do Universo e da Civilização e dificilmente aceitava o Outro, com ser detentor de uma cultura e civilização diferentes.
Com estes romances, para os quais fiz uma cuidadosa pesquisa nas crónicas dos autores seus contemporâneos, os leitores poderão conhecer e viver com estes nossos antepassados as suas espantosas aventuras, quase sempre superiores às dos heróis míticos modernos. Sendo igualmente livros de viagens, mostram os mundos antigos onde a realidade e a magia se fundiam e os estranhos povos por eles visitados os levavam a partilhar dos seus costumes e crenças fantásticas e inexplicáveis.
Nos finais do Século XV, Pêro da Covilhã, o Escudeiro e espião preferido de D. João II, parte em busca da rota das especiarias e do mítico reino do Prestes João, viajando primeiro até ao Cairo com Afonso de Paiva e depois sozinho por três continentes, disfarçado de mercador mouro. Aventureiro dos quatro costados, misto de globetrotter, Indiana Jones e James Bond, Pêro da Covilhã possuía talentos extraordinários que o distinguiam de entre os grandes homens do seu tempo: uma memória quase fotográfica, a arte de criar os mais perfeitos disfarces para assumir novas identidades, uma mestria no manejo de todas as armas da época e a capacidade de falar árabe como um natural e aprender rapidamente as línguas mais estranhas. Primeiro nas missões de espionagem em Fez, depois durante a sua viagem de cerca de quatro anos pelo Oriente (1487-1492), enfrentou dificuldades e perigos terríveis e viu prodígios de tal modo espantosos – quer nas zonas desertas do norte de África e da Arábia, na selva monçónica ou na floresta tropical da Índia, quer ainda nas savanas e bosques espinhosos da costa oriental africana ou nas terras da Abissínia do Reino do Prestes João. Poucos homens se puderam gabar de ter uma vida e um saber de experiências feito, sequer próximos dos seus, pois conheceu lugares, povos e animais nunca antes contemplados por olhos europeus
Esta Colecção destina-se não a um público infantil, mas a leitores já do Ensino Secundário e Universitário (e também a adultos de espírito jovem e aventureiro!), visto alguns romances abordarem com crueza temas e episódios verídicos que poderão ser eventualmente chocantes para determinadas sensibilidades. Escrevo intencionalmente para leitores desta faixa etária por achar que têm recebido muito pouca atenção da parte dos escritores nacionais, na medida em que, para este público, praticamente só se encontram no mercado livreiro traduções de autores estrangeiros, como Tolkien, enquanto abundam as colecções de romances portugueses para menores de 15 anos. Talvez, por isso, tantos jovens adultos afirmem não gostarem de ler...
Neste Dia Mundial do Livro, 23 de Abril de 2014, desejo a todos os meus Leitores uma boa e divertida leitura
Deana Barroqueiro